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O nome De Dion foi imortalizado como um famoso sistema de suspensão utilizado em diversos automóveis desde 1893 até hoje, como nos ágeis Smart Fortwo e Caterham Seven. Este sistema une as rodas traseiras por meio de uma barra que força as rodas a permanecerem paralelas entre si. O diferencial ancora-se a carroceria tornando-se massa suspensa, enquanto os semieixos são oscilantes. Esta suspensão une vantagens do eixo rígido (constância dos ângulos das rodas nas curvas e resistência à inclinação lateral do carro) às vantagens da suspensão independente (contato maior das rodas com o solo, principalmente em piso irregular).
Não somente o sistema de suspensão entrou para a história do automóvel, como a pioneira marca que a criou: De Dion-Bouton.

A De Dion-Bouton surgiu na França do final do século 19 como uma sociedade entre o Conde Albert De Dion, o engenheiro mecânico George Bouton e o cunhado de Bouton, Charles Trépardoux.  Inicialmente construíram veículos a vapor para ricos excêntricos em uma época que veículos com tração animal era o habitual.  Surpreendiam em alcançar 60 km/h, gerando interessantes relatos de cronistas da época, como “Os raros espectadores, prudentemente postados nas calçadas, maravilham-se com a velocidade do engenho” e “Um grito de terror partiu dos espectadores quando o veículo se aproximou de um portão fechado sem que o piloto – o próprio Bouton – diminuísse a marcha. Mas o susto transformou-se em admiração quando, perto do obstáculo, os freios foram acionados e o carro parou quase que instantaneamente”.

 

Após 130 anos, um destes modelos a vapor ainda existe – é o mais antigo automóvel em funcionamento. 

 

Promoveu seus veículos em importantes participações nos primeiros ralis intercontinentais e Grand Prixs que antecederam a atual Formula 1. Revolucionou com seus experimentais propulsores a gasolina, pioneiros dos motores leves de alta rotação. Com carburação e ignição que realmente funcionavam a contento, esses monocilíndricos duráveis e simples tornaram-se populares.

Participação na primeira corrida de automóvel do mundo, em 1887.

 

Alberto Santos Dumont foi um ilustre proprietário de vários veículos De Dion-Bouton. Entusiasta, também do automóvel, possuía a maior coleção de Paris e conhecia os segredos mecânicos dos motores de seus veículos. Reconhecia que os motores de combustão interna da marca eram obras primas, tanto, que realizou modificações para que estes fossem utilizados em seus dirigíveis.

Na Europa, a De Dion-Bouton tornou-se o maior fabricante de veículos e motores do inicio do século 20. Ramificou-se na produção de caminhões e ônibus, que prestavam serviços nas mais importantes cidades da Terra como Londres, Paris e Nova York. Contavam com quase 3.000 funcionários que produziram cerca de 2.000 veículos por ano e até 1904, mais de 40.000 motores para os mais diversos fabricantes de motocicletas e automóveis, como Delage, Pierce-Arrow e Renault. A engenharia de seus veículos influenciou significativamente a indústria automobilística, principalmente ao fundador da Chevrolet, que havia trabalhado em uma das mais de 150 indústrias licenciadas a fabricar veículos e motores De Dion-Bouton pelo mundo.

Na segunda década do século 20, produziu e difundiu o motor V8 com arranjo de bielas concêntricas, que trabalham uma por dentro da outra. Definiu em sua época novos padrões de funcionamento suave, e de grande torque em baixa velocidade. Este arranjo de bielas tornou-se padrão nos motores em V da Hispano-Suiza, Lincoln, Cadillac e até hoje é utilizado em alguns motores de motocicletas, como os das Harley-Davidson.

Um De Dion-Bouton valia 4.000 francos numa época em que um operário sobrecarregado, recebia 5  francos por dia.

 

As inovações pioneiras que criaram a fama da marca não continuaram após a I Guerra Mundial. Introduziu-se a opção de modelos de luxo, mas não era concorrente a altura dos modelos da Hispano-Suiza e Voisin. Uma grande luta financeira em meio à grande depressão iniciara-se, mas o declínio era inevitável.  A lendária marca que escreveu sua origem no primórdio do desenvolvimento do automóvel cessou suas atividades em 1933.

 

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Referente ao meu post anterior O Rei dos Carros no Rio de Janeiro do Início do Século Passado, descobri que minha imaginação não é tão lunática assim e realmente aconteceram aventuras com um Avions Voisin na Rodovia Rio – Petrópolis. Em 1933, um Avions Voisin C 22 rasgou a citada rodovia em uma velocidade média de 144 km/h. Isso aconteceu entre os quilômetros 18 e 21, mas não no atual trecho de baixada da moderna BR-040, e sim na hoje Av. Presidente Kennedy, que se localiza no município de Duque de Caxias e na época era um dos trechos da rodovia Rio- Petrópolis. Não consegui obter informações, mas é provável que o pavimento do trecho fosse de paralelepípedo, já o trecho da serra era de placas de concreto.

O ocorrido foi na prova Quilômetro Lançado do Rio de Janeiro. O volante e proprietário do veiculo era Roberto Marinho, herdeiro do Jornal O Globo e fundador da Rede Globo de televisão. Em 1935, foi o vencedor da prova I do Quilômetro Lançado.
Roberto Marinho e seu Voisin provavelmente não participaram da prova Subida da Montanha (ou não terminaram) por causa da tendência de superaquecimento do automóvel em terras tupinambás. Este problema nunca foi resolvido, mesmo com a instalação de dois radiadores nas laterais e mais entradas para arrefecimento.

FONTES:
Luik Racing
Automobiles Voisin

Me apaixonei pelos automóveis franceses do fabricante Avions Voisin a partir do texto As Leis de Voisin e a Morte da Citroën. Entre os detalhes que mais me chamaram a atenção sobre a marca foi à busca de se fabricar automóveis mais duráveis, silenciosos, seguros, estáveis, econômicos e velozes possíveis no início do século passado. Esta busca gerou regras que são utilizadas até hoje para se fazer um precioso automóvel ao pé da letra, alcançadas graça a experiência do fundador Gabriel Voisin (grande projetista, fabricante de aviões e o primeiro homem a voar em um aparelho por 1 km, voltar e pousar no mesmo local da decolagem) e de seu pupilo André Lefebvre (que anos mais tarde, revolucionou a Citroën e a indústria automobilística).

Hoje (30/07/2010), tenho a grata surpresa de saber, através do padrinho do blog Nerd de Carro, Nikollas Ramos, que o jornal O Globo publicou no seu caderno semanal Carro Etc uma foto do estande Avions Voisin e seus esplêndidos automóveis na Exposição de Automóveis de 1925, no Rio de Janeiro!

Não tive como não imaginar uma excitante viagem, com uma das unidades do estande, pela Fluminense Estrada macadamizada União e Indústria. Infelizmente, a primeira rodovia pavimentada do Rio de Janeiro, a Rio – Petrópolis, foi inaugurada seis anos após a exposição e impossibilitaria um teste ainda mais eufórico de um destes excepcionais automóveis Avions Voisin naquele momento.

Nessas horas minha imaginação vai longe, principalmente a bordo do “O Carro dos Reis, o Rei dos Carros” (frase comercial estampada em uma placa do estande Avions Voisin).